Mulheres no comando de skate shops: Principais desafios

Com o grande crescimento do mercado digital e da ampla quantidade de marcas voltadas para o skate, manter uma skate shop física tem sido bem desafiador. Quando você é mulher o desafio acaba sendo maior, mas não é impossível. Conversei com duas mulheres de peso nessa área, Tat Marques, skatista e fundadora da Amee, uma das primeiras marcas voltadas ao publico feminino e sócia da Zio Skate Shop e com a Bebel Abramo, fundadora da Urbe Skate Shop.

Como foi o inicio da trajetória de vocês no mercado?

Tat: Eu trabalhava como estilista nas marcas, tanto no atacado quanto no varejo, que são mercados diferentes. Em 2009, paralelo a esse trabalho, eu criei a Amee e partir disso comecei a entender o mercado, as necessidades dos clientes. Em 2010 criei a skate shop da Amee de forma virtual, foi bem em uma época que não tinha muito loja virtual, então tinha dificuldade em entender, é um publico nichado e existia muito preconceito em ver que era uma marca feita por uma mulher e para mulheres. Era mais difícil a entrada em outras skate shops por causa disso, não tinha credibilidade marcas de skate feitas por mulheres. Uns anos depois eu conheci meu marido, começamos a namorar e ele já tinha uma skate shop no Sul de MG, então mudei para cá e desde 2020 assumi a frente da skate shop.

Bebel: Nós já vivíamos o skate antes, desde aquela fase de criança ter skate, sabe?! Eu fui até a adolescência, sou muito medrosa (risos), meu marido é skatista profissional e conta com mais de 26 anos seguidos de skate. Nós começamos a loja muito antes de abrirmos as portas lá em 2017 (esse ano fazemos oito anos de loja) aliás foi uma época que o skate estava bem em baixa na real, mas o sonho e a vontade de fazer acontecer eram maiores que tudo!

Juntamos a grana por alguns anos antes, ambos já trabalhávamos com comércio, e aí com muito trabalho conseguimos iniciar o projeto, mas nós que tivemos que fazer tudo, tudo mesmo da loja! Desde a ideia do nome, a criação da logomarca (obrigada ao meu pai que nos auxiliou nessa), toda a comunicação visual da loja, as araras, luz e até a pintura da loja, a gente que fez, e no fim, fazer o negócio acontecer foi muito mágico! E se quer saber isso tem muito valor pra nós!

Vocês sentem que ainda há um preconceito por vocês serem mulheres e estarem à frente de um negócio que por muitos anos foi dominado por homens?

Bebel: Há cinco anos meu marido se dedica a dar aulas de skate e sou eu quem fica em tempo integral na loja. Os desafios são enormes, e acredito que quando somos mulheres em um ambiente que desde o princípio foi muito machista, se torna ainda mais pesado. De todo o modo, isso nunca foi um super problema pra mim, porque eu sempre fui o estilo de mulher “pé na porta”. Mas às vezes tenho minha opinião invalidada, só por ser mulher, e isso é difícil, porém com muita paciência e jogo de cintura a gente vai levando. Adoro quando atendo esse tipo de pessoa, que chega até a ligar pra algum homem com “aquele papo de: – ah esse meu amigo anda de skate” e a pessoa fala exatamente a mesma que eu disse.

Tat: O meu marido é representante, então eu cuidava da Amee e da skate shop e na loja eu comecei a lidar e comecei a entender que representantes falavam comigo, mas também tinha que te ter o aval dele, isso me deixou insegura, até na época que eu era estilista, também precisava da validação de um homem e essa é uma parte chata.

Um ponto positivo é que a loja teve uma organização melhor, teve uma visão mais feminina de relação não só com clientes, mas com funcionários, não que ele não fizesse isso bem, em minha opinião a gente tem uma postura mais acolhedora e incluir o meu conhecimento nisso ajudou demais a nossa loja, deu uma fluidez, um gás e hoje somos uma multimarca.

E na visão de vocês, como está esse mercado atualmente?

Bebel: Desde as olimpíadas tudo mudou demais, preços, forma de consumo e perfil de quem anda de skate. O skate passou de “maloqueiros e marginais” para atletas olímpicos é isso foi até difícil de processar por mim, sendo bem honesta. E daí junto veio toda essa onda de parasitas empresários, principalmente na internet. As coisas ficaram mais difíceis pra skate shop core, na verdade parece que todas tão desaparecendo, e são todas essas pessoas desde o primórdio que mantém a chama acesa, que fez o skate chegar aonde chegou. Seguimos com a certeza de que vivemos o nosso sonho, com todas as dificuldades e bônus que isso trás!

Tat: Atualmente a Amee é bem forte aqui na cidade, porque eu pude trabalhar o mercado, entender as necessidades e perceber a parte negativa e ajustar, isso foi muito positivo para a marca, para a loja e para mim também, eu pude agregar o meu conhecimento quanto ao processo de criação, mas pude conhecer o outro lado, de lojista.

Hoje eu tenho mais credibilidade e mais segurança e liberdade para fazer as coisas, desde escolher as marcas que vamos trabalhar, qual marca que dá certo para nossa região, porque cada região tem as suas necessidades, não posso comparar o sul de MG com a Capital de SP e eu era acostumada com o mercado da capital que é diferente do mercado do interior. Trabalho em parceria com o meu marido, ele cuida da parte burocrática e eu fico na parte de criação, marketing, administração de pessoas, hoje está bem mais harmônico e não vejo mais tanta dificuldade quanto via antes.

Já na Amee, que é uma skate shop virtual, eu ainda sinto uma resistência muito grande, hoje a Amee é unissex, mas ainda tem aquele estigma do feito por mulher e eu sempre tento incluir as mulheres o máximo que eu posso, são artistas mulheres, tenho a Lud como skatista, temos parceria com revista feminina, participamos de eventos femininos. É um mercado que eu tenho muito carinho, o skate feminino que a gente já lutou muito, eu acho que isso ainda impede muitas coisas, mas eu vejo luz no fim do túnel.

Eu vejo muitas dificuldades para as skate shops estamos passando por um desafio, onde o mercado do skate está muito bom em questão de mídias, marketing, mega eventos, chegamos na época do skate igual para todos, onde o que diferencia é a técnica de cada um, mas o mercado não está conseguindo acompanhar essa ascensão, muitas skate shops fecharam e isso é um desafio muito pesado.

A Urbe Skate Shop está localizada na Rua Alfredo da Costa Figo, 164, Fazenda Santa Cândida, Campinas – SP.

A Zio Skate Shop está localizada na Rua Chagas Dória, 19 – Jardim Palmeiras, Lavras – MG.

Amee Loja: https://www.ameeloja.com.br/

Fortaleça o comércio local!

Texto: Renata Oliveira