Por que ainda é tão difícil o reconhecimento do trabalho das mulheres em ambientes majoritariamente masculinos? Apesar de, ao longo dos anos, as mulheres terem conquistado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, ocupando funções antes vistas como exclusivamente masculinas, ainda há muitas diferenças no tratamento entre homens e mulheres que desempenham as mesmas funções.
Constantemente, nossas capacidades, força e conhecimento são colocados à prova. E mesmo quando uma mulher realiza algo grandioso, há sempre um homem tentando minimizar ou invisibilizar esse feito. Isso ocorre por conta da forma como fomos socialmente criadas. Por muito tempo, fomos condicionadas a ocupar posições subordinadas aos homens. Até um passado recente, o papel da mulher na sociedade era o de esposa, responsável apenas por servir ao marido, cuidar dos filhos e zelar pelo lar. Eram poucas as liberdades: cozinhar, lavar, costurar e procriar. A voz feminina era silenciada, não podíamos sair desacompanhadas, e até para trabalhar, precisávamos da autorização de um homem. Eles, por outro lado, tinham o poder de gerir empresas, ocupar cargos políticos e exibir suas esposas como troféus.
A conquista dos espaços que ocupamos hoje foi possível graças à luta, união e revolta de muitas mulheres. No entanto, os traços da hierarquia masculina ainda persistem. Os homens não estão habituados a ver mulheres em posições de liderança, seja dirigindo, pilotando ou atuando na política, e estão sempre esperando o menor deslize para apontar o dedo e julgar com base no nosso gênero.
Além disso, a desigualdade salarial persiste, mesmo quando as mulheres realizam o mesmo trabalho que os homens. Somos questionadas sobre a maternidade — se temos filhos, quem cuidará deles; se não temos, sobre o desejo de gestar. Inclusive, alguns justificam que mulheres deveriam receber menos por conta da gravidez e do direito à licença-maternidade.
Apesar da dupla jornada — trabalhar fora e cuidar da casa, pois as tarefas domésticas ainda recaem majoritariamente sobre nós —, conseguimos ocupar esses espaços com a mesma competência dos homens. E isso incomoda, desafia o ego masculino: “Como elas conseguem dar conta de tudo?” Sim, estamos sobrecarregadas, mas desistir não é uma opção. Há um longo caminho a percorrer. Vai ter mulher na fotografia, manobrando, editando, filmando, narrando, arbitrando, botando o dedo na ferida e onde menos se espera, estaremos lá, abrindo espaço para outras mulheres também chegarem.
Um dia foi apenas uma de nós; hoje, são centenas, milhares. E, passo a passo, esses espaços se tornarão mais igualitários. Não buscamos holofotes, apenas o mínimo: respeito pelo nosso trabalho e reconhecimento. Somos tão capazes, inteligentes e fortes quanto os homens. Enquanto uma mulher tiver o direito de falar, nenhuma outra ficará em silêncio.
5 Formas de fortalecer
Aumentar a Visibilidade das Mulheres no Skate: Promover mais cobertura e destaque para as mulheres no skate em mídias, eventos e ativações. Isso inclui garantir que elas tenham representação adequada em competições, reportagens e publicações especializadas, além das vídeo-partes.
Criar e Apoiar Iniciativas de Mentoria e Formação: Desenvolver programas de mentoria e treinamentos voltados para mulheres no skate. Isso pode ajudar a fomentar novos talentos e oferecer suporte e orientação para aquelas que desejam entrar no mercado do skate.
Promover Igualdade de Oportunidades e Prêmios: Garantir que competições e eventos de skate ofereçam premiações e oportunidades iguais para mulheres e homens. Isso envolve assegurar que as categorias femininas recebam o mesmo nível de reconhecimento e incentivo que as masculinas, e que todos os profissionais, independentemente do gênero, sejam compensados de forma justa pelos seus trabalhos.
Aumentar a Representatividade nas Decisões e Organizações: Incentivar e apoiar a participação de mulheres em cargos de liderança e comitês organizadores de eventos de skate. Ter mulheres em posições de decisão pode ajudar a garantir que suas necessidades e conquistas sejam mais bem reconhecidas e valorizadas.
Combater Ativamente a Invisibilidade e o Preconceito: Envolva-se em ações para enfrentar o preconceito e a invisibilidade que as mulheres enfrentam no skate. Isso pode incluir alertar colegas sobre essas questões, promover debates construtivos sobre desigualdade sempre que identificá-las e criar ambientes seguros e inclusivos para a prática do skate.
Texto: Renata Oliveira
Revisão: Estefania Lima
Fotos: Brian van der Brug