Se lá atrás, nos anos 90, era difícil encontrar mulheres andando de skate, hoje essa realidade é outra. Essa é umas das principais mudanças no cenário atual do skate feminino nacional. Mas, vamos contar essa história bem do início para que possamos ter uma visão clara e para pensarmos se de fato foram tantas mudanças assim ou se isso se restringe apenas a uma parcela mínima das praticantes.

A primeira barreira dos anos 80/90 era achar mulheres andando de skate, não tinha muito em que se inspirar não que não existissem grandes nomes naquele tempo, mas o acesso a mídias não era tão simples e rápido como atualmente, paralelo a isso, existia também um preconceito e falta de informação sobre a cultura do skate. Já sabemos que o skate foi marginalizado por várias décadas e obvio que nenhum pai e mãe gostariam de ver a sua menininha andando por aí com roupas largas, no meio de um monte de homem e ainda se arriscando fisicamente.

Vencidos esses primeiros obstáculos já ali no final dos anos 90, as mulheres começaram a correr seus primeiros campeonatos, claro que muitas vezes sem categoria feminina, era todo mundo junto e misturado, premiação feminina também era raridade, sair nas mídias de skate também não era comum. Sem patrocínio, as meninas pegavam carona para se deslocar até os eventos. A comunicação era feita através de cartas, já que nem todas tinham telefone fixo em casa e custava muito caro fazer ligação. O real skate de rua, não tinha muitas regalias, acertar a manobra dava um gás, mas o que valia mesmo era estar na sessão com os amigos, juntando moeda para comprar o lanche coletivo, bebendo água da torneira e rindo muito. Se tornar profissional não era nem de longe um sonho, era algo quase impossível para as skatistas.

Já nos anos 2000, acredito que um grande marco foi o vídeo da Villa Villa Cola, lembro de assistir esse vídeo diariamente, quase como uma religião. Também surgiram as redes sociais como o MSN e o Orkut e as lan houses foram um grande facilitador para conectar as skatitas de varias regiões do país e de fora dele também. Em contra partida, ainda era escasso campeonatos femininos, embora nessa época já houvesse a categoria e as premiações tivessem melhorado um pouco. O skate masculino seguia a plenos pulmões, principalmente o Vertical que tinha mídia garantida na maior emissora do país. Nesse tempo as skateshops eram o pico, vídeo part e revistas de skate davam palco para os grandes nomes do skate. Comparado ao que era, o skate não poderia estar vivendo a sua melhor fase. Mas nas pistas ainda tínhamos espaço limitado e quase sempre éramos coagidas pelos caras, porém era mais comum ter meninas andando, já não éramos mais sozinhas.

Atualmente o skate feminino obteve grandes conquistas, quem imaginou que teríamos vaga no horário aberto da TV, que os pais incentivariam as suas filhas a serem skatistas, que trariam grandes eventos para o Brasil? O skate ter se tornando modalidade Olímpica, trouxe um vislumbre que ao mesmo tempo em que é muito bom, traz também muita cobrança, muita pressão. Quando há um crescimento acelerado, mas não há uma política de incentivo para tal coisa, a tendência é que a gente perca muitos talentos por falta de oportunidade de crescimento. As skateshops precisaram se adaptar ao novo mercado digital, grandes marcas começaram a ter linha de produtos para skate, como o poder financeiro acabam fazendo uma produção em grande escala, a pequena marca local já não consegue competir de igual para igual com isso, conseqüentemente cai o número de patrocínios, que já não era tão alto. Mesmo tendo tantos eventos, eles ainda são centralizados no Sudeste / Sul do país, o deslocamento ainda segue precário e caro. É muito difícil furar a bolha, o desgaste físico e emocional, fora o financeiro, faz com que a maioria da parcela saia em desvantagem em ralação a meia dúzia que vive a Era de Ouro do skate feminino e não, não é culpa das skatistas. Mas o que é necessário fazer para que a oportunidade seja no mínimo igual para todas?

Sim, hoje temos mídias especializadas em skate masculino, skate feminino, mídias digitais em sua maioria, as revistas impressas são raridade e skateshops lutam para se manterem ativas.
O avanço tecnológico fez com que o computador estivesse na palma da mão, não só ele, mas a câmera também, qualquer sessão já rende um vídeo pare alimentar a rede social, a esperança e a vontade de chegar lá, é grande, mas as dificuldades ainda estão aí. Mas enquanto estivermos aqui a nossa meta é que seja possível tornar o sonho real.
Texto: Renata Oliveira