De Skate Emprestado a Campeã: A Jornada de Ester Perussi no Skate

Contar a história do skate feminino brasileiro inclui grandes nomes que contribuíram para que o skate se tornasse o que é hoje. Em uma época em que não havia tanta visibilidade, ser mulher e skatista era um desafio que ia além das manobras. Com poucas competições, falta de patrocínio e, muitas vezes, falta de incentivo dentro da própria casa, o que restava era se jogar em busca de um sonho ou de um estilo de vida. Para relembrar um pouco dessa história, falaremos de um dos grandes nomes do skate feminino dos anos 2000: Ester Perussi.

Quem é Ester Perussi?

Ester Perussi é natural de Sertãozinho – SP e começou a andar de skate em 2003, aos 9 anos de idade. Como todo início é complicado, com ela não foi diferente: pegava um skate emprestado, com um shape tubarão sem lixa, e ia para a pista. Hoje vivemos a era do skate feminino, mas naquela época o skate ainda era muito marginalizado e, além disso, não era uma prática comum entre as meninas. Assim como em muitos outros lugares, Ester era a única garota a frequentar a pista da Cohab 3, onde a galera começou a perceber seu potencial e incentivá-la.

Vinda de uma família com pais religiosos, enfrentou dificuldades para que sua paixão pelo skate fosse aceita, principalmente por parte da mãe. Tudo começou a mudar quando seus amigos a levaram para competir em seu primeiro campeonato, no Sesc de Ribeirão Preto. Logo na estreia, Ester ficou em primeiro lugar. A partir daí, sua mãe passou a apoiá-la.

Em 2005, Ester participou do Circuito Mineiro, um campeonato importante que a fez se sentir inserida no cenário do skate. O evento tinha um alto nível de competitividade, já que Belo Horizonte e Uberlândia contavam com meninas que andavam muito e dominavam a cena na época. O circuito teve quatro etapas: na última, Ester ficou em 7º lugar; na terceira, em 5º; na segunda, em 2º; e na primeira, em 1º. No ranking geral, sagrou-se campeã do Circuito com apenas um ano e meio de skate.

Apesar do bom desempenho e dos resultados em competições, os patrocínios não eram formalizados. O apoio se resumia a um tênis ou um shape por mês. Para quem não tinha muito, isso já era uma grande conquista. As premiações costumavam ser tênis de numeração grande, roupas masculinas, e dinheiro era um sonho distante. Mesmo assim, muitas skatistas vendiam os prêmios para conseguir bancar a própria trajetória. A falta de patrocínio fez com que muitas meninas abandonassem o sonho de se profissionalizar e viver do skate.

Os eventos eram incertos e, muitas vezes, não havia skatistas suficientes para formar a categoria feminina, obrigando as meninas a competirem entre os homens. O custo de deslocamento, alimentação e peças sempre foi alto — e ainda é. Mas hoje, ao contrário de antes, o sonho de viver do skate é possível.

Ester participou de diversas competições e foi inspiração para várias mulheres. Com seu estilo único, nunca teve medo de se jogar nos obstáculos.

Em 2007, participou do primeiro vídeo compilado do Divas Skateras. O projeto reuniu skatistas de diversas cidades e se tornou um marco na história do skate feminino. Confira a partir de 02:09:

Em 2018, disputou seu último campeonato, o Oi STU QS Street, no Rio de Janeiro, onde acabou lesionando os dois joelhos.

Atualmente, Ester trabalha no setor metalúrgico. Fez um curso de desenho de máquinas, cursa o último semestre de mecânica – processos de soldagem e atua com desenhos e projetos mecânicos.

Para conhecer mais sobre sua história, confira sua entrevista no Podcast das Santas:

Texto: Renata Oliveira
Fotos: Jr Lemos, Julio Detefon